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"Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. E, por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso."

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Bons motivos para ser vegetariano

Bons motivos para ser vegetariano
Estamos a viver um ressurgimento do interesse pelo vegetarianismo como nunca antes no passado. Mas contrariamente a outras épocas, em que os defensores da alimentação vegetariana eram homens maduros, com experiência no âmbito da filosofia ou da ciência, hoje são os jovens que, com mais entusiasmo, procuram um estilo de vida mais simples e natural.A seguir exporemos os motivos por que uma pessoa pode decidir ser vegetariana.
Motivos de saúde
Até à década de setenta, os especialistas em nutrição estavam mais preocupados em cobrir as carências alimentares e em conseguir que se consumissem calorias suficientes, do que com a qualidade dos alimentos. Foi na primeira metade do nosso século que surgiu e se afirmou o "mito" das proteínas: Tinham de se consumir proteínas suficientes (mais do que as realmente necessárias), e a melhor forma para isso era recorrer aos produtos cárneos.Mas nos últimos anos, os investigadores e especialistas em nutrição provaram que é mais importante a qualidade dos alimentos, do que a quantidade; que as necessidades de proteínas são menores do que se pensava; e que o problema da nutrição dos países desenvolvidos é precisamente o excessivo consumo de alimentos de origem animal, de gordura e de açúcar, e a falta de produtos vegetais (fruta, cereais e hortaliças).
A Associação Dietética Norte-Americana, reconhecida pela sensatez das suas declarações, emitiu, já em 1980, a seguinte opinião: "cada vez há mais evidências científicas que apoiam uma relação positiva entre a alimentação à base de vegetais e a prevenção de certas doenças crónicas degenerativas, como a obesidade, as doenças coronárias, a hipertensão arterial, a diabetes, o cancro do cólon e outras"1

Doenças cardiovasculares
No interessante relatório publicado recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS), Dieta, nutrição e prevenção de doenças crónicas, há uma secção dedicada às doenças cardiovasculares, em que um grupo internacional de especialistas recorrem às últimas investigações relacionadas com as vantagens da alimentação à base de vegetais. Um dos seus parágrafos diz: «Os subgrupos da população que consomem dietas ricas em alimentos de origem vegetal apresentam taxas mais baixas de cardiopatia coronária que a população em geral.»2 Na prestigiosa revista médica Lancet veio publicado recentemente um estudo segundo o qual em 82% dos doentes de aterosclerose que seguiram uma alimentação vegetariana baixa em gorduras, além de se absterem de tabaco e de praticarem exercício físico, verificou-se uma diminuição dos depósitos de colesterol que estreitam o calibre das artérias e dificultam a passagem do sangue.3

O colesterol
A alimentação vegetariana estrita não contém colesterol, já que esta substância só se encontra nos alimentos de origem animal. Nenhuma fruta, cereal ou hortaliça contém colesterol. O organismo é capaz de produzir o colesterol de que necessita, a partir dos ácidos gordos da alimentação. Mas quando, além disso, se ingerem quantidades significativas de colesterol com os alimentos, o seu nível no sangue aumenta perigosamente.Os vegetarianos têm um menor nível de colesterol no sangue, o que os protege contra a formação de aterosclerose, enfarte de miocárdio, tromboses cerebrais e outras afecções cardiocirculatórias.Na Austrália realizou-se um estudo com o objectivo de comprovar a acção da alimentação sobre o nível do colesterol. A um grupo de pessoas deu-se a comer, entre outras coisas, 250 gramas de carne magra por dia, enquanto a outro grupo se deu a mesma alimentação, apenas substituindo a carne por proteínas de glúten e de soja. Depois de seis semanas, os vegetarianos conseguiram baixar o seu nível de colesterol duas vezes mais do que o grupo que seguiu a dieta de carne magra.4

O cancro
Uma alimentação vegetariana protege contra o cancro, por várias razões:É rica em substâncias protectoras contra o cancro, que só se encontram nos alimentos vegetais: caroteno ou provitamina A (na cenoura, pimento e outras hortaliças coloridas), enzimas que inactivam o cancerígeno benzopireno (nas couves e na alface),5 inibidores das proteases (nas leguminosas) e antioxidantes (vitamina C). Contêm fibra vegetal em abundância, cuja falta aumenta o risco de cancro de cólon. A carne não contém nada de fibra vegetal (celulose). A fibra absorve e arrasta as substâncias cancerígenas que possa haver no intestino e faz o mesmo com o colesterol e com os sais biliares.6 Normalmente os vegetarianos consomem muito menos gordura que os não vegetarianos. Além disso, as gorduras vegetais geralmente contêm ácidos gordos mono ou polinsaturados, de acção protectora contra o cancro e benéficos para a saúde. Está demonstrado que quanto mais aumenta o consumo de gordura animal, maior é a mortalidade por cancro da mama.7 A alimentação à base de vegetais está isenta das substâncias cancerígenas que se encontram na carne, como o benzopireno, o metilcolantreno, os nitritos e as hormonas para engorda do gado.

A obesidade
A maior parte dos estudos feitos demonstram que em média os que se alimentam à base de vegetais pesam entre 4 a 10 quilos menos do que os que consomem carne habitualmente.8, 9, 10 Segundo o relatório de um grupo de especialistas da OMS,11 cada vez há mais provas que demonstram que o excesso de gordura na alimentação favorece o aumento de peso. Quanto maior é a proporção de calorias da alimentação que procedam das gorduras, tanto maior é o risco de obesidade.Estes achados estatísticos e experimentais, publicados no relatório da OMS, comprovam que os vegetarianos ingerem uma menor quantidade de gorduras, tanto em termos absolutos (gramas de gordura diários) como relativos.

A tensão arterial
Segundo refere esse relatório de especialistas da OMS, «os estudos epidemiológicos indicam sistematicamente que a pressão arterial entre os vegetarianos é mais baixa que entre os não vegetarianos (...) Se bem que não seja fácil determinar a causa precisa destes resultados, esses estudos assinalam que algum componente dos produtos de origem animal, possivelmente as proteínas ou as gorduras, pode influir na pressão arterial nas populações bem alimentadas.»12 O dito relatório recomenda, como forma de evitar tanto a hipertensão como a obesidade, seguir uma alimentação baixa em gorduras e com um conteúdo elevado em hidratos de carbono complexos (por exemplo: cereais integrais), reduzir ao mínimo a ingestão de álcool e reduzir o consumo de sal.

Diabetes
Quem não come carne tem um risco menor de sofrer de diabetes. E mais, há estudos que sugerem que o consumo habitual e abundante de carne poderia estar relacionado com a causa da diabetes. Por isso, havia que rever todas as dietas para diabéticos, nas quais costuma estar sempre presente o típico bife grelhado. Poderia muito bem estar a acontecer que se recomendasse aos diabéticos que co-messem justamente aquilo que lhes causa ou agrava a sua doença.

A osteoporose
As mulheres ovo-lacteo-vegetarianas sofrem com menor frequência de osteoporose do que as que comem carne habitualmente.13 A osteoporose converteu-se, ultimamente, numa das doenças que mais preocupam as mulheres depois da menopausa. Consiste numa perda de massa e de consistência óssea, que as torna mais susceptíveis a fracturas e deformações. Os investigadores ainda não descobriram porque é que as mulheres que seguem uma alimentação ovo-lacteo-vegetariana sofrem menos de osteoporose do que as que comem carne, pois em ambas as dietas o consumo de cálcio é similar. Mas pensa-se que, devido a um mecanismo ainda pouco conhecido, o consumo elevado de proteínas na alimentação à base de carne faz com que o organismo elimine mais cálcio com a urina.14

A resistência física
É um facto conhecido que a resistência física dos atletas vegetarianos à fadiga é superior à dos que têm uma alimentação cárnea. Os que comem muita carne têm mais "força de arranque" para conseguir um esforço máximo num curto espaço de tempo; mas cansam-se primeiro. Este é o caso dos levantadores de pesos, que geralmente têm uma alimentação hiperproteíca, com muita carne: São capazes de desenvolver uma força extraordinária num dado momento, mas carecem de resistência.Investigadores suecos realizaram uma prova de resistência com atletas bem treinados, fazendo-os pedalar uma bicicleta estática. Depois de seguirem durante três dias uma dieta rica em produtos animais, com muitas proteínas e gorduras, conseguiram um tempo máximo a pedalar, sem parar, de 57 minutos (tempo médio). Durante os três dias seguintes alimentaram--se com uma dieta mista (carne, ovos, leite, batatas, verduras e fruta), e a média do seu tempo subiu para os 114 minutos. Mas depois de seguirem uma dieta vegetariana, rica em cereais integrais e frutos secos, bem como fruta, legumes e outras hortaliças, conseguiram uma média de 167 minutos a pedalar sem se deterem.15

Motivos éticos
Há pessoas que se convenceram que devem alimentar-se à base de vegetais (fruta, cereais, verduras e hortaliças), por razões éticas. Evi- dentemente que estas não se podem medir nem analisar por critérios científicos e cada um é livre de as assumir ou não. Neste campo, todos devemos exercer uma grande dose de tolerância – de que a humanidade está tão necessitada actualmente –, respeitando as opiniões e crenças dos outros.

O respeito pela vida
O respeito pela vida dos animais, como razão para não comer carne, é uma ideia muito antiga. As religiões orientais, como o budismo, mostram uma grande bondade e compaixão pelos animais, embora haja quem o relacione mais com a doutrina da reencarnação das almas (qualquer animal pode estar habitado por uma alma humana), do que com um respeito pelo animal em si mesmo. Em qualquer caso, o certo é que são muitos os povos do Oriente que há muito evitam matar os animais para se alimentarem. Também na Grécia e Roma clássicas se desenvolveu esta ideia: Pitágoras, Porfírio e Ovídio, entre outros, pensavam que matar os animais para comer, contamina e brutaliza o espírito humano. «Quando poreis fim a essas execráveis matanças?», perguntava o filósofo grego Empédocles, no século V a.C.16 Ao longo da história foram muitos os artistas, filósofos e cientistas que partilharam estes sentimentos para com os animais. Leonardo da Vinci, Gandhi, Edison, Bernard Shaw, Rabindranath Tagore e Tolstoi eram vegetarianos.17 Basta ver como se afeiçoa uma criança a um galito ou a qualquer animal doméstico, para nos darmos conta de que o sacrifício de um animal para o comermos é algo contrário à natureza humana.

Criados para sofrer
Mas não só o facto de se matarem os animais suscitou advertências morais em diversos povos e pessoas. A forma cruel e sem consideração em que a miúdo são criados, transportados e sacrificados, desperta o repúdio de muitos. A revista profissional El Medico dizia num artigo dedicado às modernas técnicas de produção animal: «A vida numa empresa de criação é a seguinte: as vitelas recém-nascidas são separadas da mãe. São alimentadas com leite desnatado e passam os poucos meses da sua vida, sem movimento, em estábulos a uma temperatura de 37 graus centígrados. Desta maneira, bebem mais do que o faria um animal normal, (...) e, além disso, comem um puré de proteínas que desenvolve mais rapidamente a apreciada carne branca. O objectivo da sua existência – o matadouro – é alcançado quando estão cheias de antibióticos como medida preventiva, de bloqueadores beta contra o risco permanente de enfarte e de sedativos contra o stress.»18

O respeito pela própria vida
Os motivos éticos para a abstenção da carne também se podem apresentar sob outro aspecto, para além do respeito pelos animais: o do respeito pelo próprio corpo da pessoa. Hoje são muitos, em todo o mundo, os que, tanto com base religiosa como sem ela, aplicam esses mesmos princípios éticos de vida saudável e de respeito pelo seu próprio corpo.

Motivos ecológicos e económicos
A criação de animais para serem utilizados como alimento, é um luxo, um autêntico esbanjamento em termos económicos. Se as grandes quantidades de cereais e leguminosas que se usam como rações, bem como de terreno e água, que se usam para engordar os animais de quinta, fossem utilizados para consumo humano, poder-se-ia acabar facilmente com a fome no mundo. Por cada 5000 calorias em forma de milho (1,4 quilos) que se investem dando de comer a uma vaca, só se recuperam 200 calorias em forma de carne (130 gramas). Com 1,4 quilos de milho podia alimentar-se um habitante do terceiro mundo durante vários dias, mas 130 gramas de carne apenas dão para um único bife à mesa de um ocidental. A produção de carne requer investir grandes quantidades de grão, só para poder alimentar o gado.Se se plantarem 100 metros quadrados de soja, obter-se-ão uns 5 quilos de proteína, com os que se poderiam cobrir as necessidades proteicas de 70 pessoas durante um dia. Mas se esses 5 quilos de proteínas forem empregues para alimentar o gado, obter--se-á unicamente meio quilo de carne bovina, com o que se poderá cobrir escassamente as necessidades proteicas diárias de apenas 2 pessoas.

Solidariedade contra a fome
Há cidadãos sensíveis aos desequilíbrios nutricionais dos habitantes do nosso planeta, que encontram nestes dados uma razão importante para deixar de consumir alimentos animais. Os países pobres da terra vêem-se obrigados a vender aos ricos, para estes alimentarem o gado, o grão e a soja de que, na realidade, necessitam para dar de comer aos seus próprios habitantes. A solidariedade, a que tanto se recorre para combater a fome no mundo, poderia ser posta em prática simplesmente destinando à alimentação humana os milhares de toneladas de cereais e de soja que se empregam para fabricar rações para o gado. Isto requereria que os habitantes dos países ricos reduzissem o seu consumo de carne (o que, além disso, melhoraria a sua saúde), e aumentassem o de cereais e leguminosas. E se se prescindisse totalmente do consumo de carne, não aconteceria nenhum problema do ponto de vista nutricional, pois está mais que provado e aceite por todos os especialistas, que a carne não é um componente imprescindível da alimentação humana.Não se trata de nenhuma utopia: A qualidade nutritiva das proteínas da soja é igual ou superior à da carne; e os produtos à base de soja e cereais podem ser muito atraentes e saborosos, tal como o podemos ver nas casas especializadas em dietética.

A cesta das compras
As razões económicas também podem ser importantes a nível individual. Comparando os princípios nutritivos, a carne acaba por ser mais cara que os legumes, os cereais ou as batatas. Num estudo realizado em 1990, nos Estados Unidos, calculou-se que uma alimentação baixa em gorduras saturadas e em colesterol, com pouca carne e poucos produtos lácteos gordos (completos), ficava ao consumidor a 230 dólares anuais.19 De maneira que a alimentação vegetariana não só é mais saudável, mas também é mais barata..


Jorge D. Pamblona Roger
Médico e autor de várias obras sobre cuidados de saúde, entre as quais a enciclopédia ‘A Saúde Pelas Plantas Medicinais’ à vossa disposição nesta Publicadora.

Fonte: http://www.saudelar.com/edicoes/2000/setembro/principal.asp?send=nutricao.htm 

2 comentários:

  1. poderia me informar a fonte das informações citadas no texto?

    para eu pesquisar melhor sobre o assunto

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  2. Ola, a fonte e o link estão no final do texto. Abraços. Manu

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