Faço destas as minhas palavras....
…um desabafo
30 maio 2012, 18:42. Postado por Resgatinhos
Quando digo que sou voluntária em uma ONG as pessoas reagem de maneiras diversas. Mas de modo geral observo duas reações bem distintas: ou há uma crítica por ser uma ONG de proteção animal (por que não vai ajudar gente?), ou acham que é lindo e bacana.
Pra quem critica nem me dou ao trabalho de gastar saliva e explicar alguma coisa. A vida é minha e ajudo quem eu quero.
E pra quem acha que é lindo e bacana, realmente é…mas isso não significa que seja fácil. Brincar com os gatinhos, dar carinho, organizar bazares, isso tudo faz parte do trabalho. É a tal da parte bacana. Mas está longe de ser só isso, e acho que a maioria das pessoas nem imagina o “outro lado” do trabalho voluntário – eu com certeza não imaginava, quando comecei como voluntária. Talvez seja falha nossa, por só falarmos sobre os ganhos, e quase nunca sobre as perdas…mostramos os finais felizes, as fotos fofas, mas pouco falamos sobre o que acontece nos bastidores de um grupo de proteção animal…as coisas que na verdade a maioria das pessoas não quer ver ou saber.
Ser Voluntário – e digo mergulhar de cabeça nisso – vai além de abrir mão de algumas horas de lazer. É abrir mão de muito da sua vida pessoal, e também abrir mão da sua inocência, porque existe uma realidade por trás da proteção animal que só quem está diretamente envolvido conhece. É uma realidade triste e difícil, e uma vez que tomamos consciência dela, não temos mais como ignorar ou esquecer – mesmo que a gente tente. Somos expostas a um lado muito escuro do ser humano, e presenciamos ou ficamos sabendo de coisas que ninguém acredita que possam acontecer.
Ser Voluntário é não conseguir dormir à noite porque a cabeça está rodando a mil, pensando em como arrumar dinheiro para aquela cirurgia de emergência, ou para aquele tratamento super caro. E portanto, ser
Voluntário também é perder a vergonha de pedir. E pedir. E pedir. Pedir dinheiro, pedir desconto, pedir ração, pedir vacina, pedir qualquer ajuda, pedir que por favor divulguem, que por favor adotem, que por favor castrem, que pelamordedeus não abandonem!!
Ser Voluntário é ficar arrasado cada vez que vemos nos olhos dos gatinhos encalhadinhos, que ninguém quer porque são pretinhos, ou escaminhas, ou já adultos, a esperança de que dessa vez eles serão os escolhidos. E ter que dizer ‘ainda não, meu bem, ainda não foi dessa vez’. E mais uma vez fechar a porta da jaulinha com eles lá dentro.
Ser Voluntário é tomar decisões que não queremos tomar, porque doem demais. No nosso caso em particular, por sermos um grupo pequeno e de recursos bastante limitados, temos uma política de ‘doar um para resgatar um’, e assim somos obrigadas a fechar os olhos para muitos casos porque é muito fácil as coisas escaparem do controle, e não podemos ser irresponsáveis e colocar em risco o bem estar dos gatinhos que já estão sob nossos cuidados, e muito menos todo o trabalho que realizamos. Não existe isso de ‘mas é só mais um’, porque na outra esquina também tem só mais um, e no outro email tem só mais um, e logo o um vira dez, que vira cinquenta. Temos que reconhecer que temos limites e não podemos abraçar o mundo. Procuramos ajudar de outros modos, ajudamos divulgando, mas como dói dizer ‘sinto muito, mas não podemos resgatar mais esse gatinho’. É como fazer ‘a escolha de Sofia’ todos os dias.
E então temos aqueles gatinhos que chegam ou ficam muito doentinhos. E que apesar de todos os nossos esforços e exames e tratamentos e patezinhos, apesar de todos os nossos cuidados e orações e promessas, vemos definhar um pouco a cada dia diante dos nossos olhos. E não existe decisão mais difícil e doída do que quando é da nossa boca que precisam sair as palavras que vão colocar fim ao sofrimento deles. A razão entende que é o melhor, mas o coração sangra e grita e chora, e nunca – nunca! – vai ficar mais fácil.
E a cada vez que perdemos um dos nossos gatinhos, um pedacinho da gente também morre um pouco.
E então me perguntam, mas se é tão difícil assim, por que você faz isso? E muitas vezes eu também já me peguei perguntando, onde foi que vim amarrar meu burro? Por que me exponho a esse sofrimento todo? E dá uma vontade enorme de largar tudo, e voltar a fingir que a vida é cor de rosa. Mas esse é um caminho sem volta…mesmo que a gente largue tudo, já vimos demais, e a vida nunca mais vai ser só cor de rosa.
Então a gente se concentra nos finais felizes, e os usamos como um bálsamo para amenizar os finais tristes.
Nos concentramos nos gatinhos que foram salvos das ruas, que se recuperaram das doenças, que encontraram uma família, que estão felizes e quentinhos e mimados em seus novos lares. Nos concentramos nas peripécias dos filhotes, no primeiro ronronar de um gatinho assustado, na primeira brincadeira tímida de um gatinho que nunca brincou antes, num olhar que mostra os primeiros sinais de confiança. E então é impossível não abrir um sorriso, e sentir o coração transbordar com um amor tão grande que não tem como explicar. Por isso respiramos fundo, engolimos as lágrimas, e continuamos: pelos gatinhos que já salvamos, e pelos que ainda iremos salvar. Porque apesar de a vida não ser mais só cor de rosa, entre as cores sombrias conseguimos vislumbrar também algumas cores brilhantes: petibancos, tricolores, siamesinhos, escaminhas, branquinhos, malelinhos, pretinhos brilhantes e sedosos. E é como ver surgir um arco-íris depois da tempestade.
PS. desculpem o post triste, mas infelizmente essa tristeza também faz parte da nossa realidade. É um desabafo pelas três novas estrelinhas no céu, Amêndoa, Salem, e a bebê adotiva da Müesli, a Biscoito.
Três lindos e amados gatinhos que perdemos em um curto espaço de tempo, apesar de todos os nossos esforços.
Fique à vontade para compartilhar os nossos textos, mas se for reproduzi-los em sua totalidade ou mesmo em parte, por favor mencione a fonte e coloque o link de redirecionamento.
Pra quem critica nem me dou ao trabalho de gastar saliva e explicar alguma coisa. A vida é minha e ajudo quem eu quero.
E pra quem acha que é lindo e bacana, realmente é…mas isso não significa que seja fácil. Brincar com os gatinhos, dar carinho, organizar bazares, isso tudo faz parte do trabalho. É a tal da parte bacana. Mas está longe de ser só isso, e acho que a maioria das pessoas nem imagina o “outro lado” do trabalho voluntário – eu com certeza não imaginava, quando comecei como voluntária. Talvez seja falha nossa, por só falarmos sobre os ganhos, e quase nunca sobre as perdas…mostramos os finais felizes, as fotos fofas, mas pouco falamos sobre o que acontece nos bastidores de um grupo de proteção animal…as coisas que na verdade a maioria das pessoas não quer ver ou saber.
Ser Voluntário – e digo mergulhar de cabeça nisso – vai além de abrir mão de algumas horas de lazer. É abrir mão de muito da sua vida pessoal, e também abrir mão da sua inocência, porque existe uma realidade por trás da proteção animal que só quem está diretamente envolvido conhece. É uma realidade triste e difícil, e uma vez que tomamos consciência dela, não temos mais como ignorar ou esquecer – mesmo que a gente tente. Somos expostas a um lado muito escuro do ser humano, e presenciamos ou ficamos sabendo de coisas que ninguém acredita que possam acontecer.
Ser Voluntário é não conseguir dormir à noite porque a cabeça está rodando a mil, pensando em como arrumar dinheiro para aquela cirurgia de emergência, ou para aquele tratamento super caro. E portanto, ser
Voluntário também é perder a vergonha de pedir. E pedir. E pedir. Pedir dinheiro, pedir desconto, pedir ração, pedir vacina, pedir qualquer ajuda, pedir que por favor divulguem, que por favor adotem, que por favor castrem, que pelamordedeus não abandonem!!
Ser Voluntário é ficar arrasado cada vez que vemos nos olhos dos gatinhos encalhadinhos, que ninguém quer porque são pretinhos, ou escaminhas, ou já adultos, a esperança de que dessa vez eles serão os escolhidos. E ter que dizer ‘ainda não, meu bem, ainda não foi dessa vez’. E mais uma vez fechar a porta da jaulinha com eles lá dentro.
Ser Voluntário é tomar decisões que não queremos tomar, porque doem demais. No nosso caso em particular, por sermos um grupo pequeno e de recursos bastante limitados, temos uma política de ‘doar um para resgatar um’, e assim somos obrigadas a fechar os olhos para muitos casos porque é muito fácil as coisas escaparem do controle, e não podemos ser irresponsáveis e colocar em risco o bem estar dos gatinhos que já estão sob nossos cuidados, e muito menos todo o trabalho que realizamos. Não existe isso de ‘mas é só mais um’, porque na outra esquina também tem só mais um, e no outro email tem só mais um, e logo o um vira dez, que vira cinquenta. Temos que reconhecer que temos limites e não podemos abraçar o mundo. Procuramos ajudar de outros modos, ajudamos divulgando, mas como dói dizer ‘sinto muito, mas não podemos resgatar mais esse gatinho’. É como fazer ‘a escolha de Sofia’ todos os dias.
E então temos aqueles gatinhos que chegam ou ficam muito doentinhos. E que apesar de todos os nossos esforços e exames e tratamentos e patezinhos, apesar de todos os nossos cuidados e orações e promessas, vemos definhar um pouco a cada dia diante dos nossos olhos. E não existe decisão mais difícil e doída do que quando é da nossa boca que precisam sair as palavras que vão colocar fim ao sofrimento deles. A razão entende que é o melhor, mas o coração sangra e grita e chora, e nunca – nunca! – vai ficar mais fácil.
E a cada vez que perdemos um dos nossos gatinhos, um pedacinho da gente também morre um pouco.
E então me perguntam, mas se é tão difícil assim, por que você faz isso? E muitas vezes eu também já me peguei perguntando, onde foi que vim amarrar meu burro? Por que me exponho a esse sofrimento todo? E dá uma vontade enorme de largar tudo, e voltar a fingir que a vida é cor de rosa. Mas esse é um caminho sem volta…mesmo que a gente largue tudo, já vimos demais, e a vida nunca mais vai ser só cor de rosa.
Então a gente se concentra nos finais felizes, e os usamos como um bálsamo para amenizar os finais tristes.
Nos concentramos nos gatinhos que foram salvos das ruas, que se recuperaram das doenças, que encontraram uma família, que estão felizes e quentinhos e mimados em seus novos lares. Nos concentramos nas peripécias dos filhotes, no primeiro ronronar de um gatinho assustado, na primeira brincadeira tímida de um gatinho que nunca brincou antes, num olhar que mostra os primeiros sinais de confiança. E então é impossível não abrir um sorriso, e sentir o coração transbordar com um amor tão grande que não tem como explicar. Por isso respiramos fundo, engolimos as lágrimas, e continuamos: pelos gatinhos que já salvamos, e pelos que ainda iremos salvar. Porque apesar de a vida não ser mais só cor de rosa, entre as cores sombrias conseguimos vislumbrar também algumas cores brilhantes: petibancos, tricolores, siamesinhos, escaminhas, branquinhos, malelinhos, pretinhos brilhantes e sedosos. E é como ver surgir um arco-íris depois da tempestade.
PS. desculpem o post triste, mas infelizmente essa tristeza também faz parte da nossa realidade. É um desabafo pelas três novas estrelinhas no céu, Amêndoa, Salem, e a bebê adotiva da Müesli, a Biscoito.
Três lindos e amados gatinhos que perdemos em um curto espaço de tempo, apesar de todos os nossos esforços.
Fique à vontade para compartilhar os nossos textos, mas se for reproduzi-los em sua totalidade ou mesmo em parte, por favor mencione a fonte e coloque o link de redirecionamento.
Olá passei para conhecer seu blog ele é notº10, muito maneiro com excelente conteúdo gostaria de parabenizar pelo seu excelente trabalho e desejar muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e de seus familiares
ResponderExcluirUm grande abraço e tudo de bom
Obrigada Rodrigo !!!
ExcluirNão deixa de visitar..tem sempre alguma coisinha nova !! :)
Abçs,
Manu
Patinhas de Rua!